quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Reforma Protestante: Liberdade e Verdade


Quando faltavam 500 dias para os 500 anos do Brasil, em 1998, pensei, já contados mais de 13 anos, sobre a REFORMA PROTESTANTE. Neste tempo dizia que “com quase 500 anos de Reforma Protestante (eram 481 anos), desde 31 de outubro de 1517, a pergunta que se faz é: o que aconteceu com o espírito da Reforma?”
Contestava, neste discurso de formatura, sobre a liberdade, a democracia, o progresso e a questão do livre exame protestante, aliás, tratava de buscar compreender quais eram os desvios gerados pela Reforma e Modernidade. Afirmara o efeito negativo da Reforma, ou seja, o individualismo, a insubordinação e a desintegração do sistema e redes sociológicas mais amplas, além do mais, esse indivíduo protestante viu que perdera a proteção de muitos símbolos e dessa alienação um espírito de revolta constante e, talvez, até inconsciente, decodificava o binômio do espiritual e do político.
Haviam mais missivas no ar daquele palco do discurso quase que teatral!
Quando Darcy Ribeiro olhou o Brasil de 1500 anos até aqui, dando por concluído sua última versão de O Povo Brasileiro, ele se perguntava: “Porque o Brasil não deu certo?”. Mas esse Brasil que Darcy julga "não deu certo" tem como referência o eurocentrismo. Ainda assim a metáfora cabe para a questão dos pensadores da Reforma, alguns como, Max Weber, Paul Tillich – aqui no Brasil Rubem Alves: Qual é a marca da Reforma? A pergunta deixava inevitável algumas outras questões: o protestantismo é medieval ou funda a fase moderna? A razão, a subjetividade, elevou-se com o protestantismo para uma antropologia emancipada, isto é, o homem tornou-se racionalmente autônomo, assim como será consolidado pelo filósofo Kant (no século XVIII)? O protestantismo mudou de fato o seu discurso contra a FORMA contestada da instituição de seu tempo?
Kant, filósofo Moderno: 1724-1804
No pretenso desvio dessas teses é que se coloca o espírito da Reforma como liberdade. Não é outra coisa senão a LIBERDADE presente no desejo, na psiquê (sonhos) de Martinho Lutero? Mas ao mesmo tempo trata-se de entender por que o espírito da Reforma (liberdade) não teria permanecido?
A equação dessa problemática da liberdade aparece na contradição infortuita, pois, o que desintegra o senso de liberdade no protestantismo é a verdade. A verdade como objeto de busca, como horizonte e significação de mundo, não seria nociva ao espírito do protestantismo, mas, a verdade enquanto posse, enquanto poder, verdade que constrói sistemas, estruturas que não permitem o diálogo, a verdade manifesta dogmaticamente, intolerante, inflexível, implacável, portanto, jogos de verdades nas redes de poder, isso é que consome o espírito do protestantismo. Dessa pseudo-verdade veio a inquisição da Idade Média, mesma inquisição psicológica do protestantismo desfigurado: verdade suicida, como notou o sóciólogo Durkhein em O Suicídio, ou seja, os protestantes europeus cometiam mais suicídios que os católicos ou os judeus; Durkhein ligou o fato da tragédia como conseqüência da cultura protestante em formar instituições menos fortemente integradas e simbolizadas para o indivíduo, quer dizer, elementos, que antes eram significativos para o indivíduo, passam  a inventar um novo indivíduo agora desprotegido dos símbolos institucionais.
Matar, cometer suicídio, pelo menos pensado na perspectiva psicológica, por causa da obsessão pela verdade, verdade enquanto posse e arma de poder, verdade que não suporta o pensamento de exercício da liberdade, nesses campos de ideias humanas que duplicam dicotomias – como a ortodoxia e heresia, ou, os dogmas e as doutrinas -  é um modo de guerra religiosa e subjetiva infindável. (Sem falar do fundamentalismo contemporâneo). Desse modo fica a saudade da liberdade na barganha que essa busca insaciável pela verdade efetiva. Verdade que assassina a liberdade?! Paradoxalmente, quanto maior esta verdade, menor a humanística que refaz a imagem da liberdade política.

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