quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Estratégias de (Sobre)Vivência nas Práticas do Micropoder Tecidas pela Resistência das Crianças

       As tripudias, brincadeiras - indisciplina (na visão adultocêntrica) - são táticas de resistência da criança para com as teias do sentido de autoridade escolar? O conceito de autoridade prevalece quando descida ao cotidiano das crianças em sua invenção diária? Na verdade, a partir de Michel Foucault o conceito de “autoridade” pode ser “desconstruído”, em contraste, a questão do poder aparece - nas relações, processos e práticas escolares – não mais como pirâmide ou hierarquia que é dado por determinado centro. É daí que Foucault surge - impostado do método nietzschiano conhecido como genealógico - para encontrar a formação dos saberes a partir de seus domínios. Ou seja, a educação cria, inventa, produz e movimenta saberes que são também formas de poder que capturam os sujeitos na instituição.


Michel Foucault 1926-1984
Foucault pensa a idéia de micropoder  – não como estatuto universal, mas como “diagnóstico” - dentro de certo microcosmo que se atualiza em instituições ou em agenciamentos (como prisão, escola, hospital, igreja, etc.). A micropolítica ou o micropoder deduz que o múltiplo, o disperso é que surge dessas relações e práticas dos sujeitos ao flagrar a corporeidade (como é o caso do corpo da criança) para travar-se nele o embate das forças intrapsíquicas impetradas para sua docilização e utilização – discursos, estatutos, regimentos, regras, documentos, pedagogias – e para que fim? Torná-la (a criança) dócil  ou pouco resistente, e útil. Obviamente que isso nos faz pensar a educação, sem contudo negá-la, nem também dizê-la possível sem alguns dos seus padrões de controle, ordem, etc., porém, trata-se aqui, na verdade, de pensar junto aos que tratam da educação do pensamento das crianças quais são suas estratégias e táticas para o governo dos outros.

Essa analítica pode fazer por tentar resgatar - a conformação microhumana da criança - um nível de status político das crianças (pensada aqui diferente do raio da Lei e do Estatuto - ECA); posto que depois da concepção tradicional do poder - problematizado por  FOUCAULT, não mais como negativo, proibitivo, jurídico – terá sido remetido, dessa inflexão foucaultiana, (por rupturas?!) à positividade (pois é econômico e produtivo). Ele inventa o real e o faz acontecer! A disciplina, o controle, a organização, a ordem, os detalhes do programa escolar, esta é a microfísica e política do poder que o faz ser produtivo, alcançável e realizável.
       Por outro lado é preciso compreender porque a criança não tem voz e nem vez diante de uma maquinaria escolar, porque o jogo de sua resistência é indiferenciado. Pois a criança delata o equívoco da propalada autoridade escolar: tal fato é uma estratégia da máquina estatal em controlar a ordem escolar?!
       A quem queira intensificar a compreensão do conceito foucaultiano de PODER (aliás, conceito esparso em suas obras) e ainda queira torná-lo mais colocado nas práticas da escola - e nas posições de seus sujeitos – principalmente relativo à infância, deve se inspirar em algumas de suas obras como Vigiar e Punir, História da Sexualidade I (Vontade de Saber) e textos escolhidos como Microfísica do Poder e Ditos e Escritos IV.

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