Pensava sobre quem é o outro (loucos, homossexuais, pobres, bandidos, deficientes físicos, criança, mulher, etc.) e rememorava algumas leituras em Habermas que fala sobre a inclusão política do outro, ele discute a democracia, lembrava também, de Derrida que contempla o outro na literatura, de Canguilhem que percebe o outro a partir do campo e escrito da medicina ou, de Foucault, este fala do outro a partir da experiência da loucura (Idade Clássica), portanto, do outro que se evade na linha do fora, do outro que habita um mundo exterior à razão estabelecida (ocidental e pós-colonial).
Há mesmo uma possibilidade variada de se pensar o outro.* Mas nessa constelação teórica de evadir-se de si para com o Outro – alteridade ou outricidade – a fim de que o outro-diferença não seja somente flagrado como outricidade dos sujeitos, e sim, outricidade entre os sujeitos – formatados por técnicas de si e das práticas discursivas que falam do outro lado da razão: desrazão: pois “esse êthos da liberdade é também uma maneira de cuidar dos outros [...]” (FOUCAULT), então, o outro está no processo do político.
O outro é certamente, conforme a ratio imperialista, um dado “[...] irreconhecível, indefinível, inominável, ingovernável” (SKLIAR). Assim, a justaposição dos tempos (tanto da escola como da criança) fica numa desrazão e contraste com a razão, aliás, numa proporção temporal que em vez de repetir o real, pelo contrário, tem por mérito a virtualização da diferença. São tempos que não se encontram do mesmo modo!
Portanto, o outro não é somente físico, espacial, temporal é também virtual - e com a crianças, com a infância, o outro passa pela sua corporeidade conforme as marcas desse ser-criança: brincadeiras, tripudias, ludicidades, ironias, fugacidade, dispersão, irracionalidades e cuidado estético de si.
Mas a escola nunca falará do outro, da diferença, da pluralidade, da multiplicidade, da democracia, do direito e da inclusão, se o outro não for pensado a partir do corpo da criança (que tem voz sim), portanto, tem uma ação da criança, um discurso da criança e um modo político das crianças ainda por ser notada. Contudo, o arranjo da esfera pública e a escola democrática não será efetivada apenas por políticas de inclusão que legislam, classificam, nomeiam o outro, pois, dentro de uma lógica imediatista, funcional e capitalista e para a visão de uma escola como se ela fosse um lugar à parte da sociedade, o outro continuará sendo um recorte da razão estatal.
Referências:
1 CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. Trad. Maria Thereza Redig de Carvalho Barrocas; revisão técnica Manoel Barros da Motta; Trad. do posfácio de Pierre Macherey e da apresentação de Louis Althusser, Luiz Otávio Ferreira Barreto Leito. 6ª ed. Rio de Janeiro : Forense Universitária, 2007.
2 DERRIDA, Jacques. Gramatologia. Trad. Miriam Chnaidermam e Renato Janine Ribeiro. São Paulo : Perspectiva, 2006.
3 FOUCAULT, Michel. História da loucura na idade clássica. Trad. José Teixeira Coelho Neto. São Paulo : Perspectiva, 2007.
4 HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro: estudos de teoria política. Trad. George Sperber, Paulo Astor Soethe e Milton Camargo Mota. São Paulo : Edições Loyola, 2007
5 SKLIAR, Carlos. Pedagogia (improvável) da diferença: e se o outro não estivesse aí? Trad. Giane Lessa. Rio de Janeiro : DP&A, 2003.
*Emmanuel Lévinas, Enrique Dussel, também contribuem com essa temática do OUTRO.
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