quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Pensamento e Ação: o que as crianças podem fazer? (Hannah Arendt)

Brilhante quando Arendt separa o pensamento da ação ao mesmo tempo em que empreita-nos sobre o que estamos fazendo (?), então, ela separa o pensar do querer e, desse limiar, a filósofa alemã admiradora de Heidegger vai por em andamento noçoes sobre a ação e o discurso humano. Assim, a vita activa – que ela diz ser a ação, o trabalho e o labor - são dimensões da condição humana que não se confunde com natureza humana. Então ela discute historicamente o animal rationale (e vai à Roma e à filosofia medieval), discute o homo faber (estágios iniciais da era moderna) da ação e do discurso, por sua vez, discute o animal laborans (agora do século XIX) que passa a operar na mais alta produtividade, cujo metabolismo com a natureza é agora sua causa irredutível e maior, pois aquela revolução industrial (século XVIII) sintetizou o consumo, o produto e o processo dessa produção junto com o ser humano num só pacote e engrenagem.
       
Hannah Arendt 1906-197
Mas o que mais me chama a atenção em Arendt é a noção que ela cunha de “espaço público e político”: como lugar do plural – da pluralidade - capaz de permitir a ação e o discurso. O espaço do político tem relação com a ação e com o discurso e quando se faz um paralelo com as crianças e sua condição humana de ser criança, então, é inevitável perguntar que tipo de conflito ou impacto isso efetiva para com a razão pedagógica atual: essa ideia da invenção do mundo infantil. A sutileza dessa razão (que são tecnologias de governamento: dos corpos e das mentes das crianças) sufoca o aparecimento do espaço público ao mesmo tempo em que produz ocultamentos da liberdade da criança. O conflito é, portanto, da liberdade e da condição humana da criança ser criança.

Então há distinção da educação e da política já que a educação não absorve o político: porque a instituição escolar à medida em que é vista muitas vezes como lugar de reprodução do social (como pensa o sociólogo Bourdieu) ou de captura e de agenciamento do infantil, consuma-se então como a escola que coloca em trânsito um jogo de verdade diferente: da educação e da política. Mas essa política que falamos com Hannah Arendt é o aparecimento dos atores para a ação e o discurso a fim de tornar tangível um mundo melhor, participativo, construtivo e até previsível pelos acordos firmados entre as pessoas. Portanto é uma política diferente também, inclusive, porque esse agir em acordo toca na questão da irreversibilidade política. Mas parece que Arendt separa Educação de Política - nem tanto por objeção ou pessimismo, pelo contrário - pelo motivo de perceber que a escola de seu tempo não poderia chegar a tal marco e daquele modo institucional.
Ademais, eis que não se pode esquecer mais a lição da escola como um agenciamento ou como um rizoma (como diz Deleuze), ou seja, há linhas diversas tanto de fuga como de interceptação das multiplicidades desse território. E queremos acreditar que a escola consiga pensar e agir diferentemente sem gerar apenas dicotomias. Assim, a primeira questão que se deve propor é uma hipótese de ver a escola, em vez de, por exemplo, reprodução da realidade capitalista e cultural moderna, ser a escola capaz de ensaiar tal qual uma política específica com as crianças visando adentramento à esfera pública - através da ação e do discurso.

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