terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Pikitim, a menina que ensina sobre as Crianças e as Infâncias.



PIKITIM na Tailândia
Ao ler sobre a “Menina de seis anos dá volta ao mundo e fala sobre seus lugares preferidos” (fonte: http://www.pikitim.com/) não se pode deixar de recolocar em paralelo a importância da experiência da criança quando se quer tratar de olhar melhor sobre o estudo das Culturas Infantis a que nos dedicamos com seriedade, seja como psicólogos, sociólogos, filósofos, pedagogos, médicos e antropólogos.
Ela visitou diversos lugares (Singapura, Tailândia, Malásia, Filipinas, Indonésia), e viu diversas regiões (climas, ambientes físicos, vilas, vilarejos), culturas, línguas, além de ter degustado comidas variadas e ter dormido em variados ambientes e modos humanos. Também brincou em todos estes contextos.
Foi de fato na dimensão de uma volta ao mundo, uma volta ao globo, que a menina, chamada Pikitim, traz suas experiências. Mas a experiência de Pikitim está na narrativa de seus pais que relatam coisas como “Brincou de esconde-esconde, correu atrás de cachorros, porcos e galinhas e fez brinquedos com cocos, corais e folhas” e “Pikitim viu muitas praias pelo mundo e elegeu como sua favorita uma das primeiras que conheceu, na Tailândia: a praia de Railay”. As principais facetas dos estudos com as crianças e os seus percursos emblemáticos estão presentes na viagem de Pikitim (ou da família de Pikitim). Posso enumerá-las mais ou menos agora, sem muito por aqui escrever, já que este blog tem nexos com os campos de estudos e assim se pode consultar cada postagem relativo ao assunto para aprofundamento.
1_NARRATIVA: a experiência de Pikitim, ou melhor, com Pikitim, são capturadas na narrativa de seus pais que vão dizer coisas óbvias, ou deveras, repetitivas, no sentido de contrastes com outras abordagens, como dizer que a menina “descobriu desfiladeiros e provou que criança pode ser feliz quando está largada na natureza, correndo atrás de esquilos, procurando ursos, subindo em montes e se deslumbrando com árvores gigantes”, quer dizer, em contrastes, como se pelo fato da menina ser urbana (ou ter conhecido a Disneylandia) tivesse que impressionar o mesmo espírito em que a criança brinca e interage com outros espaços não-urbanos? Ora, isso é repetitivo e nada impressionante. Se tem algum encanto nisto é pelo mesmo motivo em que se coloca encantado pelo ser pueril, a criança;
2_AUTORIDADE: presumem-se das mesmas situações em que as pesquisas com crianças mais avançadas têm que cruzar sobre assuntos como instituições (a família de Pikitim), autoridade (os Pais, as Leis, o passaporte), e outras ramificações sociológicas sobre o aspecto geracional e adultocêntrico ou adultofalocêntrico em que Pikitim aparecer como criança;
DESENHO de Pikitim
3_REPRESENTAÇÃO: A narrativa posiciona os textos e os contextos com diversas imagens em que seus pais deverão fazer a interpretação, dar a hermenêutica, desdobrar os eventos, figurar os fatos e corresponder com as imagens, bem como o inverso diria o mesmo, portanto, pode ter a representação da criança e da infância através das narrativas contextualizadas;
4_EXPERIÊNCIA: Pikitim, a menina de Portugal, que se aventurou um ano com seus pais, traz além das imagens uma vasta flexão com as experiências de Pikitim, embaraçadas, híbridas, com as experiências dos pais, com a experiência da família de Pikitim, com a escrita, autoria e narrativa sob poder de seus pais, porém, pelo menos o texto não é pedagogicamente tão prescritivo como alguns por aí, e, também, parece que não prefere uma cronologia ou espaço-tempo mais privilegiado sobre outros, marcando o mapa e as cidades como territórios centrífugos, nucleados, e superiores, como o retrato eurocêntrico, ou, o desenho colonialista invisibilizado da criança colonialista - que surge do colonial e do pós-colonial -, ainda assim, da narrativa que vem do mesmo lugar como se apenas mirasse o lado negativo da fotografia, porém, ainda não conta de fato sobre a criança e a infância que, na verdade, ao contá-la, poderá apagá-la como a borracha apaga o rabisco do lápis.
Poderia apontar mais, e nem falo sobre o que é emblemático na forma metodológica de encarar uma escrita com a criança e com as culturas infantis em fato de colocar em relevo o que parecer ser o melhor modo de ver a criança, ou seja, sua experiência. Aqui nesse caso surge outra lição pertinente, onde ela fala, onde ela narra, onde ela diz? Como paralisar, flagrar e transportar o que a criança fala, narra e diz? Parece que não há muita saída nessas circuntâncias em que se leva a sério os estudos com as crianças e as culturas infantis. Os cuidados em que se cerca ao pesquisador, em princípio, evidencia sua ética e estética abundante.