Acabei de ouvir
algumas falas (entrevistas?!) sobre especialistas em assuntos da religião, um
cardeal importante (prefiro não nomear), um cientista da religião importante
(prefiro não nomear) e um teólogo importante (prefiro não nomear). Os
inomeáveis são experts, talvez, eles tenham tido os insights a que todas
pessoas comuns estão se perguntando neste momento, e considerando suas origens
sócio-culturais, de algum modo em torno de si levam algumas considerações sobre
a RENÚNCIA DO PAPA.
As falas trazem
algumas noções críticas para o bom senso poder refletir, vejamos alguns
aspectos: primeiro, que o Papa (e sua eclipse religiosa, nucleada do Vaticano)
deveria expandir às questões modernas, a partir da juventude, portanto, abrir
sobre o assunto da aprovação do aborto, sobre o uso de contraceptivos
artificiais deliberativos da nova sexualidade, sobre o casamento gay, enfim,
sobre tais questões modernas da sociedade e cultura contemporânea (disse o
cientista religioso). Ou, talvez, deveria o sistema papal, em segundo lugar,
voltar criticamente em torno de si mesmo como sistema que deverá refletir sobre
a distorção histórica em que se ergueu (como cúria romana) para uma nova
plataforma do PODER - esta, adaptada à religião, ou seja, a concentração do
PODER - tendo por epicêntro o sistema religioso do Vaticano; mas isso
comparado, segundo o teólogo, ao modo existencial de Jesus Cristo, o que nesse
caso não é conveniente, pois, este, quem não se exerceu no magistério por tal
via e/ou flexão daquele tipo de "poderio" -, pelo contrário, sua vida
solta, livre, simples e sem-poder estilizado e estetizado pelos sistemas
humanos é de tal forma inigualável que faz por si a narrativa da diferença
atual com o sistema papal. Em terceiro aspecto, a fala do cardeal, replicando
às querelas midiáticas, isto é, respondendo aos repórteres de plantão, a que
simplesmente resumo na sua resposta mais direta e pertinente sobre o toque nas
questões de aprovar o aborto e companhia moderna, então ele diz tacitamente: "Poderia
o papa ser não-ortodoxo?".
Não dá aqui para
avaliar os três aspectos, aliás, bem consideráveis são todos eles. Mas duas
coisas comento muito sucintamente, (a) os aplausos dados pela platéia (ou
melhor, público) tendo que se deixar ser interrompido algumas vezes, na
verdade, o que se nota (nesse movimento) de palmas direcionadas ao papa é tão
somente o gesto de sua humanidade, falibilidade, imanência e temporalidade, já
que uma vez mais não dado ao convívio alto das exigências do artefado de poder
papal - a que o teólogo critica acima -, o povo aplaude... que palmas são estas
diria Lancelote... como se incentivasse uma aprovação (em coro) e em vida nessa
saída não-exatamente-mortal (pois, o papa ainda não morreu). Ele tem vida, tem
coração (um pouco fraco), tem consciência e tem a liberdade de renunciar,
então, não o reprovamos, pelo contrário, o ovacionamos com carinho e amor, ele
que nos aparece como não querendo sair do lugar em que está, mas que lhe pesa a
Alma. (b) Já o apelo social pela modernidade nas questões do aborto, do
casamento gay, da liberdade sexual, enfim, dos apelos em que as práticas e as
estratégias da sociedade contemporânea cobram da igreja católica, para que seja
de fato um novo sistema papal moderno, e pela mesma via de um tipo de ortodoxismo*
dialético (ideológico?) a que balizam suas forças e pregações modernas, na
verdade, não é mais que o apelo para que o sistema católico se adapte às
inspirações culturais, filosóficas e sociológicas, a partir do sec.
XVII e XVIII, principalmente deste raio, levando a cabo os lemas da
fraternidade, da liberdade e da igualdade, conforme a amplificação dada pela
Revolução Francesa, indo assim até o atual condensamento da suposta práxis dos direitos
humanos. Ademais, eis que pensam (os apeladores modernos contra o sistema
católico) a partir de tal apelo à (nova) ordem papal instituída, porque
novamente esperam um PAPA NOVO E UM NOVO PAPA, nesse caso, o "novo" é
um "eidos" platônico, ou seja, é um imperativo social em que deve tal
NOVO se alinhavar à ordem moderna já considerada consolidada pela história,
pois, isto não se discute, ou seja, o progresso não discute com o medieval, o
antiquado e o velho, então, deveremos discutir sobre o NOVO PAPA e como pode se adequar ao sistema
do progresso, deveremos bsucar com o novo papa um tal nivelamento com o positivismo (da ciência), enfim, parece que o que pensam
tais inquiridores do anseio plástico do novo sistema papal é que seja ele, enfim, um
NOVO espécime papal laico (?), espécime instituição a-eclesial (?),
performativo de um tipo a-teológico (?), por contraconceito dialético que vire um Papa-Estatal, quem sabe até, um
tipo NOVO antireligioso (no sentido de sua Tradição); e tudo isto, como se o apelo à modernidade, uma vez acolhida ao
novo sistema papal idealizado, possa ser ainda considerado externamente outro
sistema papal, por outro lado, deste tiro dado do escuro cultural ou para o escuro religioso, nada responde às implicações
dadas, por exemplo, como (ainda) conseguirá ser do tipo ortodoxo, religioso e
principalmente humano/transcendental, conforme a simbologia interna tratada
pela Igreja - ou se trata de realmente eliminar toda sua substância? Ora, se os
retóricos modernos - também inomeáveis, múltiplos, pluralizados - devem, enfim,
dizer que não é o aniquilamento da religião católica, e uma vez caso ela
seja extinta, logo, será para se afundar por de vez no abismo do secularismo
racional, se não é isso o que eles querem ou não estão pensando o que querem
senão o para-si pensam o que querem no seu imperialismo racional, então, devemos olhar melhor, pelo menos,
na via do caminho da distinção. É preciso separar o trigo do joio nesse emaranhado discursivo moderno. Entrementes, não nos cabe senão algumas outras
questões assim como elas se sobrepõem por aqui: O que a Santa Igreja irá
responder? O que fará com os Ensinamentos de Cristo? Como revelará ou
interpretará a partir dos Evangelhos (grego e aramaico)? Como fará a apologia
hebraica das Santas Escrituras? Terá a sociedade contemporânea uma igreja à sua
forma e molde como tanto deseja (?), enfim, nesse caso, o que seria a Igreja
Moderna (?) senão o Estado Religioso absorvido pela Razão.
*O sentido de tal "ortodoxismo" é do tipo reta doutrinação, reto discurso de cima abaixo.