A educação precisa pensar uma das suas contradições, aliás, são várias as contradições educacionais. O mérito da educação permite em que tudo (talvez "tudo" seja muito!) se pode falar, se pode dizer, se pode escrever e se pode argumentar com a educação. Isso me fascina porque a educação abre-se, pelo menos em tese, e também por tendências dialéticas, dialógicas e da própria construção com o conhecimento - tecido, sistematizado e organizado, em tudo isso, a educação se coloca versátil (e acessível) às formas discursivas plurais. Por isso interceptar o seu campo é obviamente sempre tangível e dependendo da argumentação que se faz ou se provoca, há créditos.
Mas a educação não tem pensado muito sobre uma contradição básica, inclusive, contradição esta acima de sua razão profissional, da estrutura das políticas públicas, da arquitetura e instituição escolar que ela se inspira, enfim, a educação contradiz-se nessa relação direta com a INFÂNCIA, que podemos dizer, é o seu objetivo, função e sentido (da instituição educativa escolar). É uma contradição porque recorta um campo que deve ser relativo às infâncias e às crianças, considerando-se que há diversas infâncias e diversas crianças. A educação prática lida com a infância e a criança muito diretamente apresentada ao seu labor pedagógico!
Podemos suspeitar dessa contradição com algumas questões: Quem perguntou às crianças que estilo, cor ou forma aquela escola deveria ser construída? Quem conversou com as crianças sobre as disciplinas a serem planejadas, remanejadas ou inseridas no currículo daquele projeto escolar? Quem foi que insinuou juntos às crianças sobre os modos de viver as diferenças culturais, étnicas, sexuais, religiosas e de crenças propagadas na arena escolar? Como se pode estabelecer o espaço de convivência escolar apreciável ao jeito contemporâneo das crianças viverem a seu modo de ser (agir, pensar, falar e praticar)? Claro que as crianças não são os únicos atores do processo educativo, porém, sem elas toda eclipse educacional não funciona. Entrementes, fica no ar da contradição de seu foco infantil!
Pelo contrário, o que se percebe é que se prima provavelmente à maneira adultocêntrica, e os modos políticos estatais, bem como as interpretações do infantil segundo uma lógica cultural (principalmente pedagógica), muitas vezes, é a lógica capitalista, burocrática, do moderno e do progressivo. Portanto, se percebe que o mundo infantil é inventado dessa maneira. Wartofsky em A construção do mundo da criança e a construção da criança do mundo depõe-nos, neste enigma, a tatuagem dessa contradição da educação ao lidar com seu bem maior, as crianças. Aliás, por se falar nas produções pedagógicas, assunto que falarei depois, as contradições aparecem mais latentes.
Mas será que essa invenção (da educação sem a voz da criança) acontece sem resistência? Penso que não e certamente acho uma brecha: muita coisa que se pensa e diz sobre a indisciplina escolar, mais que uma perversão da ordem estabelecida como se formata em certas imagens dos atores escolares, pode também ser vista em conjunto com tipos de manifestos ou resistências das crianças. Inclusive, às vezes não se trata de indisciplina, posto que é mais razoável como ludicidade e estética das crianças. (Não se trata de dizer ao contrário, ou seja, que a indisciplina é reflexo da ordem escolar saturada, não é isso, não é essa a apologia, porém, a indisciplina pode ser vista no jogo dos indícios, dos sinais e/ou dos códigos que delatam a resistência das crianças.) Pelo menos uma coisa é certa: as crianças sabem muito bem da contradição da educação e procuram algum sentido contemporâneo para o ato de educar que está inserido nesse processo direto dos que lidam com a educação do pensamento das crianças e das infâncias.
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