Qual é a especificidade do saber filosófico (deixo essa pergunta apenas como link para problematizar a presente temática) e qual é o campo do saber da Filosofia da Educação? Ou melhor, quais são as questões e tarefas específicas da filosofia da educação?
Para a interceptação da filosofia com a educação e para uma definição, delimitação e/ou objetivo, é preciso pensar sobre a especificidade da filosofia da educação. Quero sugerir alguns pontos estratégicos dessa discussão.
A especificidade da filosofia da educação pode partir exatamente de algumas categorias que estudam o ser humano, como por exemplo, da CATEGORIA VALORATIVA; e daí pode envolver, nessa discussão, a questão da construção de si (técnicas de si), desse modo, há de tocar, talvez, num tipo de filosofia axiológica, isto é, por puro gosto ou por escolha intencional, entre as muitas filosofias prováveis, optar-se-á por aquelas que tendem a refletir sobre os valores (grego: axiomas, αξίωμα) da subjetividade humana. E essa inflexão é sempre possível com a filosofia.
Mas também pode-se expor uma outra categoria, a CATEGORIA da FINALIDADE. Esta poderá problematizar a questão do existir (e da existência), quer dizer, ela poderá dizer sobre a finalidade da educação, qual é o seu τελειος [teleios], “τελος” [telos]: acabado, completo, enfim, "aquele que alcançou o objetivo". Aliás, ela lembra a busca do velho e clássico parâmetro de "educar para que?". Desse ponto chega-se às velhas respostas, "emancipação", "cidadania", "formação", sem necessariamente apenas duplicar essas correntes sem a crítica importante. Por exemplo, Hannah Arendt não pensa que essa é uma função possível da educação.
Desse aspecto crítico as tarefas da filosofia da educação articulam-se com as Ciências Humanas, quando chegam à questão do sujeito, da história e da sociedade, da literatura e do (polêmico) objeto das ciências humanas (Ser humano? texto? Polissemias e polifonias? Experiência-escritura?); também, quando aborda-se o aspecto ético ou a intencionalidade da pessoa: sobre o existir social no tempo histórico que intercepta a prática política; por fim, quando a metodologia aplicada às pluralidades metodológicas colocam em conjunto algumas correntes já conhecidas, por exemplo: se escolhe uma de enfoque epistemológico e se de opta por outra de enfoque praxiológico: uma primeira que vem de dada epístême (ἐπιστήμη): ciência, conhecimento, ou outra que prioriza o discurso ou a prática política como do tipo foucaultiano do saber-poder: a política das práticas sociais a partir da polaridade do saber-poder que pensa o efeito de dominação do conhecimento nas instituições disciplinares.
ROUSSEAU 1712-1778 |
Rousseau* disparou no tempo algumas ideias que ainda nos chamam a atenção: “Não se conhece a infância; [...] Procuram sempre o homem na criança, sem pensar no que ela é antes de ser homem.” (p.4); ou: “Se quiserdes um idéia da educação pública, lede a República de Platão [...] é o mais belo tratado de educação jamais escrito [...] Nosso verdadeiro estudo é o da condição humana” (p.14-15). Portanto, dois temas contemporâneos, infância e política, são missivas rousseaunianas.
*ROUSSEAU, J.J. Emílio ou da educação. Trad. Roberto Leal Ferreira. 3 ed. São Paulo : Martins Fontes, 2004.
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