Deleuze, filósofo francês, 1925-1995 |
A sociedade moderna inventou máquinas de captura e sequestro! O surgimento de maquinarias - máquina-indústria, máquina-hospital, máquina-presídio, máquina-escola – efetiva essa configuração da “máquina concreta”, como pensou o filósofo francês Deleuze (2005, p.49), lugar-agenciamento dos indivíduos. Nesse sentido, é dentro do raio do funcionalismo maquínico que se deflagra e se configura alguns dispositivos binários (entre o normal/anormal, entre incluso/excluso), ou seja, as maquinarias modernas evidenciam modos e processos de relação entre as tecnologias sociais e as técnicas de disciplinamento dos indivíduos à maneira de abstração de uma dada totalidade (como subterfúgio) a ser inventada por modos racionais bem conforme o traço do desenho social conveniente. Dessa lógica, a máquina mira, principalmente, os corpos dos indivíduos - e procura deter também a interpretação. Não é diferente com a escola, ela é uma máquina social (nessa complexa maquinaria estatal moderna). Mas o que faz essa máquina social? Fabrica indivíduos, classifica-os entre produtivos e não produtivos, entre normais e anormais, estabelece um programa a ser perseguido (do tempo, da composição espacial, da função dos corpos dentro desse sistema, etc.), inventa o real (estatísticas, mecanismos de controle e produção, metas e planejamentos), enfim, o desempenho dessa maquinaria escolar tem muitos tentáculos e também elementos deterministas que o mantém. Ademais, a mola impulsionadora dessa maquinaria moderna e contemporânea elege-se a partir das práticas discursivas pedagógicas e educativas. Portanto, tanto os saberes escolares e pedagógicos aparecem através do domínio das ideias daqueles que trabalham com a educação do pensamento (professores, atores do processo, etc.), quanto, também, estão imbuídos nos sistemas de ideias que são afluídas desse campo de saberes poderes (microfísicos) eclipsados nessa maquinaria, seja através de táticas, de estratégias, seja das resistências e opressões, pois isso sempre variará conforme o enfoque ou a experiência coletada no campo social, por exemplo, o atestado médico do professor estressado, o laudo da criança “anormal”, a apatia ou indisciplina do aprendiz, a ameaça da nota baixa e do fracasso escolar, enfim, o poder microfísico age de outro modo, pois, é positivo, inventivo, liberativo - porque libera ou detona ações intrapsíquicas e intersubjetivas (em vez de cercear, proibir, inibir!). O mais interessante é olhar essa maquinaria escolar que se evolui dos saberes e dos poderes que estabelecem práticas discursivas entre os que educam e os que são educados no sistema de ideias pedagógicas e educativas através de um tipo de anatomia política muito singular.
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