quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O Sujeito e o Poder


        Quem é que disse faticamente que Foucault não pensa sobre o sujeito ou que não há um sujeito a ser pensado em Foucault? Não é bem assim!
        A obra de Michel Foucault destaca a relevância do poder no delineamento da figura do sujeito e na formação do indivíduo como produto que surge das instituições e das sociedades, e assim o concebe tendo como sustentáculos as forças de poder e de saber, aliás, forças (poder-saber) que se articulam estrategicamente na história ocidental frente às implicações das relações existentes entre eles.

Michel Foucault

        Muito embora a categoria "poder" ocupe posição crucial na obra de Foucault, é notável que ele nunca tenha escrito um livro específico sobre o tema. Entrementes, a categoria poder no pensamento foucaultiano é “interpenetrado de historicidade”, logo, surge como ponto de apóio a complexas relações de forças, sobre a qual incidem inúmeras conformações produtoras de “verdades”, em razão disto, tanto podem reafirmar como recriar o sentido de sujeito ou, ainda, sob tais jogos de verdades e práticas discursivas de verdade, é que se pode (re)discutir o binômio individual/social (do sujeito moderno).
        Esse é o espaço de formação - a partir da filosofia analítica - ao qual Foucault desenvolve a genealogia de um “sujeito moderno”, caracterizando-o como correlato de certa disponibilidade ou exposição às técnicas que o poder disciplinar e o biopoder (inclusive, o poder pastoral) deve formatar uma nova corporeidade, individualidade e o sujeito dado na prática social. Agora o sujeito está aplicado no plano “destrancendentalizado”, ou seja, através do plano analítico da linguagem, da orientação discursiva ou da ordem discursiva, ele se efetiva, comunica, trabalha e fala. São as empiricidades do sujeito.
        Por outro lado, é o poder-saber intracorporal, ético-existencial, político, e eclipsado nesse sujeito, por meio dos exercícios, das técnicas, da ascese, deve ter implicação correlata na subjetivação do sujeito, atualizando-o sempre através do que Foucault chama de cuidado de si. E considerando ainda que não é mesmo a atividade do sujeito de conhecimento que poderia produzir um dado saber, útil ou arredio ao poder, isto é, não se trata de investigar a consciência, a cognitividade, ou a interpretação do mundo correlato ao sujeito que o interpreta, não é isso, na verdade, essa genealogia - a partir do poder-saber - investiga os processos e as lutas que atravessa e constitui o sujeito, bem como determina as formas e os campos possíveis para o seu conhecimento. O sujeito é remetido a partir dessa microfísica ao plano da liberdade e da política. Isso também quer dizer que o sujeito (foucaultiano) dá sustentação de desmantelamento da antiga visão do poder centrado no “rei”, enquanto súdito, enquanto passivo ou encantado naquele estático vislumbre do poder estatal (poder soberania). Portanto, esse sujeito não é o indivíduo que surge como mera invenção do Estado!
        O rastro histórico desse estudo do poder deve tratar do período entre o século XVII e XVIII, da sociedade disciplinar e da sociedade de controle na contemporaneidade. Mas essa flexão da microfísica em torno do sujeito poder-saber, sujeito gerido pela busca do cuidado por si mesmo desloca a discussão do poder em nível da totalidade, ou melhor, permite pensá-lo fora da Lei, fora do Limite ou fora da Soberania. Trata-se, portanto, de investigar a estética e política da liberdade a que o sujeitos podem experimentar no acontecimento e fuga dos limiares epistemológicos. A quem queira se aprofundar, das obras de Foucault, indico que é mais denso essa discussão em “Vigiar e Punir”, “História da Sexualidade” - v.1 e 2, e “Hermenêutica do Sujeito”.


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