sábado, 24 de dezembro de 2011

Derrida e a Desconstrução (da Política).

Derrida, 1930-2004
Foi a partir da década de 70 que Jacques Derrida cunhou o conceito desconstrução. Nascimento (2004, p.12) explica que: “[...] não há ‘conceitos’ nem ‘idéias’ filosóficas propriamente ditas em Derrida. Há noções e categorias não-fechadas, ou ainda operadores textuais, alguns dos quais ele nomeia como ‘indecidíveis’, e que estruturam seus textos de maneira dinâmica.” O filósofo francês empreitou esse conceito na época da escrita da obra Gramatologia (1967) - e parece que foi a partir desse trecho que a palavra provocou grande impacto no imaginário intelectual da França, Europa, Estados Unidos, inclusive, aqui no Brasil: “A ‘racionalidade’ – mas talvez fosse preciso abandonar esta palavra, pela razão que aparecerá no final desta frase -, que comanda a escritura assim ampliada e radicalizada, não é mais nascida de um logos e inaugura a destruição, não a demolição mas a de-sedimentação, a desconstrução de todas as significações que brotam da significação de logos (DERRIDA, 2006, p.13). Portanto o termo (desconstrução) surgiu quase espontaneamente, ao mesmo tempo em que surgiu com precaução, muito embora Derrida tenha se inspirado na filosofia heideggeriana, entretanto, ele não culminará sua empreitada no campo da filosofia existencial e nem seguirá a via do pensamento niilista (nas vias Nietzschianas). Nascimento diz: “Na citada ‘Carta a um amigo japonês’, Derrida explica que a palavra ‘desconstrução’ se lhe impôs, sobretudo na Gramatologia, mas ele mesmo não tinha certeza de sua existência em francês. O termo surgiu como tentativa de traduzir as designações heideggerianas Abbau e Destruktion, as quais ele evitou transcrever como ‘destruição’, a fim de evitar a conotação niilista.”
Habermas (2000, p.265) numa de suas considerações críticas sobre algumas das questões das aporias nos discursos da pós-modernidade, critica que Derrida “[...] chama o seu procedimento de desconstrução porque este deve desmontar os suportes ontológicos erigidos pela filosofia no decorrer de sua história da razão centrada no sujeito.”
O que para nós aqui é importante: a desconstrução propõe deslocar “conceitos”, e no contexto político, a desconstrução de um conceito deve conflitar toda lógica de relação de dominação dos sujeitos, dos discursos, das verdades, das instituições, etc. “O trabalho rebelde de desconstrução visa à destruição das hierarquias habituais de conceitos básicos, à derrubada de contextos de fundação e de relações conceituais de dominação, como entre a fala e a escritura, entre o inteligível e o sensível, a natureza e a cultura, o interno e o externo, o espírito e a matéria, o homem e a mulher (HABERMAS, 2000, p.264)”. Nascimento completa que: “A desconstrução tem a ver, portanto, com um processo de descentramento, e segundo Derrida passa por diversas questões de tradução cultural, de um contexto a outro.” Mas afinal o que desconstruir – surge mais concreta a pergunta? Desconstruir aquilo que tende a centralizar, dicotomizar, mistificar, aparelhar, dominar, espraiar colonizações e hierarquizar o poder, desde que isso tenha por sina gerar deslocamentos e ocultamentos da liberdade, da ética e da estética (existencial) dos sujeitos. Se os conceitos, as tramas, as forças, os jogos discursivos de verdade e suas estratégias, bem como a produção de textos, trabalham contra a liberdade do sujeito, então é preciso descontruir para fazer valer a política dos sujeitos. Por fim, fica um alerta: “Como a desconstrução ocorre em contextos específicos, não podemos nunca fazer uma afirmação generalizada sobre seus processos e efeitos, ignorando o momento histórico, as forças em conflito, os pontos de deslocamentos, etc.” (NASCIMENTO, 2004, p.41)

Referências:
DERRIDA, Jacques. Gramatologia. Trad. Miriam Chnaidermam e Renato Janine Ribeiro. São Paulo : Perspectiva, 2006.
HABERMAS, Jürgen. O discurso filosófico da modernidade. Trad. Luiz Sérgio Repa, Rodnei Nascimento. São Paulo : Martins Fontes, 2000.
NASCIMENTO, Evandro. Derrida. Rio de Janeiro : Jorge Zahar, 2004.

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