quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A casa da(s) infância(s) I

Fim do séc. XVIII e início séc. XIX, região serrana do ES
A imagem é inspirativa. Não somente isto. O fotógrafo, como o historiador, enuncia, supõe o recptor, irradia uma panorâmica. Busco aqui a brincadeira de criança e a beleza do desenho infantil a fim de tecer algumas coisas em torno da casa. Certeau (2007; 2012), certamente, delata a sentido inapreensível do escrito, que golpea o flagrante olhar, a desenhar, a escrever, refletido pelo inusitado. Desse modo, a infância é sempre mais ou menos um pouco de cada uma destas coisas, ou melhor, deve equacionar algumas outras: como olhar o que não foi visto, dizer o que não foi dito, escrever o que não foi escrito? Portanto, desta imagem-casa surgem provocações importantes e saberes. A casa está por perto, próxima, familiar e é nuclear à família/sociedade. Assim, Freyre (1998) - e à crítica freyriana - decompõe universalismos e ideologias tacanhas e estruturantes da realidade (colonialista brasileira) a partir da casa, aliás, a casa-grande, se comporta modelos, microcosmos, hierarquias, economias, de fato, cotempla os (a)fazeres da casa.
1 - A criança compõe o mundo: a imagem da composição do artista, que se autointitula artista fotográfico (Ervin Kerckhoff, 1886-1972), coloca o autor, o enunciador, mais ou menos, com o olhar do pintor; portanto, o guadro surge através de certa imaginação. Contempla certos processos recptores. Enfim, isto me lembra a descrição de Foucault (2007) a partir do pintor Velásquez. Tem-se aí o modelo, o guadro, e também a ausência. Modeos e ausências, analogamente, nesta imagem, tecem a representação do mundo, da casa, do ambiente. E se se interessa em ver a representação da criança como configuração e composição do mundo, então, ela surge como sujeito, a criança, o indivíduo familiar. Surge também como a compositora de sentidos, barulhos, preenchimentos, inclusive, dos lugares privados da casa, dos recantos das roças, das relações com os bichos, da irrupções fronteiriças e limitadas pelas cercas, até mesmo o paladar, o cheiro e a marcação territorial com seus próprios pés. Sua voz torna-se audível e concreta!
2 - O mundo da criança é assim inventado: penso aqui, desta imagem e representação, que a questão de Wartofsky (1999) sobre Quem constrói quem - o mundo a criança, ou a criança o mundo? pode inserir o epicentro de uma representação (pedagógica), a escrita, a imagem, a representação, ou melhor, a escrita do sujeito e sua relação com o livro-experiência, a escrita do sujeito e do livro-imagem, enfim, o que se coloca nessa configuração é um outro sentido, como as coisas, as formas, os objetos, as próprias imagens e representações em torno da criança são produções-discursivas, produções-imagéticas e pictóricas, enfim, essa lacuna ou esse estranho olhar deve remeter a ideia de invenção da infância, via uma narrativa fotográfica. Nesse caso a autoria, a ordem, o guadro, pode tecer outros olhares e sentidos, inclusive, o não-visto, o não-dito, o não-escrito e até o não-representado. Tal proposta problematiza as teorias, as metodologias, as pesquisas e as produçoes, todas, pois, são os desafios contemporâneos.

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