sexta-feira, 9 de março de 2012

Ética e Moral em Foucault (2)

Voltando ao assunto da moral foucaultiana e sua proposta, a história da sexualidade deveria ocupar a extensão de mil anos (V a.C. até V d.C.) enquanto trataria das técnicas do cuidado de si, mas a obra ficou inconclusa; porém, surpreende ao reducionismo moral, ou, como diz Castro (2009, p.93) “[...] os ritos de purificação, as técnicas de concentração da alma, as técnicas de retiro (anachóresis), os exercícios de resistência. Esse conjunto de práticas já existia na civilização grega arcaica e foi integrado nos movimentos religiosos, espirituais e filosóficos, em especial no pitagorismo.” (Na parte I, postagem anterior, já havia indicado a surpresa foucaultiana, conforme escavou, sim, pois, ele fez uma escavação do conceito-histórico - e instituinte - desse termo Moral). Na antiguidade clássica, o cuidado de si não está em oposição ao cuidado dos outros: ele implica, ao contrário, relações complexas com os outros porque é importante, para o homem livre, incluir na sua “boa conduta” uma justa maneira de governar sua mulher, suas crianças ou sua casa. O ethos do cuidado de si é, portanto, igualmente uma arte de governar os outros e, por isso, é essencial saber tomar cuidado de si para poder bem governar a cidade. É sobre esse ponto, e não sobre a dimensão da relação consigo, que se efetua a ruptura da pastoral cristã: o amor a si torna-se a raiz de diferentes falhas morais e o cuidado dos outros implica, doravante, uma renúncia de si no transcurso da vida terrena (REVEL, 2005, p.34, grifo nosso). Dessa maneira o cuidado de si é uma estética-existencial que demanda uma política singular. A moral, a ética, nesse sentido, burilam-se na estética do sujeito. Além do mais, na escrita de Foucault, categorias como experiência, acontecimento ou atualização, passam-se como estilos dos sujeitos que cuidam de si. “A liberdade é da ordem dos ensaios, das experiências, dos inventos, tentados pelos próprios sujeitos que, tomando a si mesmo como prova, inventarão seus próprios destinos” (FILHO, 2007). Portanto, temos uma ESTÉTICA a que os sujeitos sedimentam na pluralidade dos discursos, culturas, experiências, inventos, testes de limites e outros campos da liberdade. E uma política que precisa prever a composição do outro enquanto acimenta, através do cuidado de si e dos outros, sua propria estética existencial.  
Variações do Sujeito Moral


Ética e Moral em Foucault (1)

É interessante o modo como Foucault se apropria e procura estudar o poder, como dito em outro lugar, sem dedicar um texto especial ao assunto. Nesse aspecto, já na fase final de suas obras (e vida), Foucault haverá de se interessar para produções como uma temática específica: sobre si e sobre os outros; bem, na verdade deve-se entender que essas pesquisas sobre o SI-MESMO e sobre OS OUTRO, interceptam o campo da SUBJETIVIDADE e LIBERDADE dos SUJEITOS, por sua vez, tudo está imbricado diferentemente das referências ou limites das estruturas jurídicas e estatais modernas. Esse é o tom foucaultiano, aliás, ajuda-nos - e lembra-nos - o filósofo Deleuze (2005, p.109): “A idéia fundamental de Foucault é a de uma dimensão da subjetividade que deriva do poder e do saber, mas que não depende dele.” Portanto, a flexão foucaultiana se insere no campo da subjetividade (ou seja, como os sujeitos se fazem, se cuidam, se tecem, se moralizam, etc.?). De tal questionamento é que se marcará a diferença que a liberdade define frente às formas do poder tipo o código moral (regras e valores propostos aos indivíduos ou grupos) e seu aparecimento nas instituições (como as famílias, as escolas e as igrejas): “As diferenças podem, assim, dizer respeito ao modo de sujeição, isto é, à maneira pela qual o indivíduo estabelece sua relação com essa regra e se reconhece como ligado à obrigação de pô-la em prática” (FOUCAULT, 1984, p.27). Sobretudo, em tantas pesquisas históricas e comparações, Foucault enterra de vez uma simples origem para as questões da moralidade, do ascetismo ou do ritualismo que a Idade Média e Moderna terá que experiênciar, istoé, colocar em justaposição a gênese da moral acética com a moral cristã, aliás, não que, outros pensadores tenham tornado a questão simplista demais (nessa ideia da gênese da moral), porém, o que se propõe aqui é muito mais atenção para o fato um pouco mais complexo, ou melhor, se o reducionismo da moral tentou chegar à medida em que desejava convencer nossa contemporaneidade da simples gênese moral, sobretude, absorvida à Moral Cristã e nela a se consolidar, então, Foucault ajuda à retomada menos ingênua do assunto, posto que, até àqueles que se iludem numa crítica desmedida, empunhados com o martelo nietzschiano, a golpear no ponto de ataque à gênese da moral cristã, aliás, Nietzsche, filósofo que foi também um dos mentores de Foucault, enfim, tal proposta do reducionismo moral, como se fosse aí a base da contemporaneidade à proporção que seria fácil de ser desmantelada e explicável os modos de subjetivação ou de governaentos dos outros, pos bem, tudo isso para ficou no adeus. Em resumo, a conversa não se encerra na tentativa desse golpe ou manobra discursiva de justificação moral como se fosse algo simples, na verdade, a historicidade de como o sujeito se constitui o sujeito moral precisa de maior amplitude: essa noção do cuidado de si e dos outros; e a diversidade genealógica da moralidade e da individualidade cultural e histórica.



terça-feira, 6 de março de 2012

Modos e Ideias dos que educam e a política da criança

Uma política da infância com outro enfoque é a que deve interessar em estudar a maneira em que se relacionam as técnicas de governo (relações de poder), as práticas de si (constituição do sujeito) na educação do pensamento (como ato de ensinar e atitude de aprender) dentro desse arranjo do espaço educativo que se põe como a arena desses embates, ou melhor, a questão que se coloca são os modos políticos dessas relações - governo, sujeito e arena pública - envolvidos nesse processo entre os que educam o pensamento da infância, em específico: que modo de racionalidade e qual impacto são (esses) delatados pela criança no seu modo de dizer (a verdade) nesses processos do pensamento com a infância? Nota-se que os enfoques são tecidos nesses processos da identidade da pessoa, na ascese do cuidado de si (conforme trabalha Foucault) e no seu aparecimento na esfera pública (segundo pensa Arendt), portanto, é uma problematização que se levanta em torno de uma racionalidade especificamente política enquanto se busca - tanto em Arendt quanto em Foucault – esses processos de práticas políticas alem da e na sua negativa institucional - à medida que se potencializa os processos que estabelecem a rede das crianças em torno da amizade, da cortesia, da solidariedade, da hospitalidade, do respeito (ORTEGA, 2001; BORGES, 2004), logo, são também modos e práticas discursivas. E dessa trama as ações das crianças são deslocadas - ou definidas como a-políticas, ou seja, essa racionalidade política contando sua verdade institucional efetua processos de ocultamento deflagrados por parte de quem reproduz a instituição nos modos de pensamento com as infâncias, por isso, os jogos de verdades são conflitados nessa problemática posta em questão como um modo político da infância. Ainda mais porque tal silenciamento (da política dos infantes) está mais no profundo da razão política neoliberal: muitas práticas discursivas da instituição escolar: práticas que se apresentam como hegemonias construídas para a necessidade do infantil. Em resumo, é desse marco que se deve equacionar os modos de dizer a verdade da criança assim como ela constitui a si-mesmo sujeito de ação nesses processos que impõem a norma do infantil - dado aí como desejo institucional.