sábado, 5 de maio de 2012

Produção e Reprodução Social-Escolar (II): o discurso da escola sobre o fracasso escolar e a desigualdade social.

É bom lembrar por aqui, logo de início, sobre como Bourdieu expressou a teoria da reprodução social escolar, aliás, junto ao sociólogo Jean-Claude Passeron, este, pouco lembrado no contexto, pois, as teorizações - como lidas no livro A Reprodução e Escritos de Educação, este, organizado somente com ideias de Bourdieu - colocam em relevo algumas intenções, digamos, mais bem enfocadas nessa mira crítica que há no contraste das relações de ensino com as relações de classe do sistema escolar.

Nesse sentido crítico da escola, deveras, é preciso ir com certos cuidados, porque parece que tal constação providencia uma visão pessimista ou despontencializada da escola, entretanto, se a crítica à escola contemporânea é, desse modo, acirradamente intensa, por sua vez, é dessa flexão sociológica que seu caráter e funcionalismo social surgem, ou melhor, a crítica deve equalizar propostas e rupturas com muitos entraves ou obstáculos à colocação mais justa e oportunizadora da escola a seus sujeitos.

Ademais, eis que as autoridades escolares e as produções dos experts (pedagogos, sociólogos, psicólogos) devem colocar no nível direto de propagação dos que alguns chamariam de ideologia, outros, de interesse da classe dominante, ou, ainda, que são prioridades estatais, porém, trata-se muito mais, como dito acima, de um espécime de funcionalismo escolar, que aquilo que se diz ser hierarquia de domínio ideológico, ou seja, na visão desta ação microfísica - que é uma anatomia política do sistema escolar – é que se aplica uma correlação com as práticas discursivas, tanto conscientes quanto inconscientes, tornando plausível tal poder-saber ser visto como positivo e produtivo.

Desse modo, o fenômeno da violência simbólica a que as crianças estarão submetidas nessa interface que conflita com os interesses da classe dominante, desse entremeio, surge a configuração do sentido a que se chama reprodutivo social-escolar, que dizer, tanto o capital social quanto o capital cultural, a que todos os atores escolares estarão dispostos e expostos, nesta trama social, parece registrar o embate latente entre as relações de ensino e as estruturas das relações de classe.

Produção e Reprodução Social-Escolar (I): o discurso da escola sobre o fracasso escolar e a desigualdade social.

A organização escolar aplica um funcionalismo social sutil, espacial e temporal. Isso vem em paralelo com a mesma racionalidade das instituições emergentes nos séculos XVII e XVIII, muito embora a escola, assim como a denominamos democrática e universal, deva ser uma invenção institucional já do século XIX; e no caso da analítica brasileira, a escola foi adaptada junto às transformações da cultura escolar - brasileira - no século XX (SOUZA, 2008). Nesse caminho, para entender esta teoria da produção e reprodução social-escolar, primeiramente, faz-se necessário interpretar – sob criterioso cuidado - a questão da disciplina escolar e, por sua vez, o que vem a ser essa forte ênfase discursiva da meritocracia escolar a pairar sobre os atores do sistema de educação, ou seja, são as seguintes equações pertinentes a serem dirimidas: por qual motivo a escola deseja tanto o disciplinamento dos corpos infantis? Por que a escola estabelece esse discurso - muito bem situado - do mérito de cada aluno - ao mesmo tempo em que coloca tal proposta meta do sucesso social (tendo por foco principal) o discurso do futuro da criança?

Pierre Bourdieu: 1930-2002
Sociólogo Francês
Na verdade há certos conflitos e, posto aqui de um modo diferente, essa questão precisa decifrar uma política que nota quais são os entraves e os obstáculos sobre os modos em que a escola se insurge na trama social para tornar os corpos infantis dóceis, por efeito, classificando-os no espaço; em razão disso, dentro da perspectiva do crescente processo de virtualização do mundo social aos olhos dos infantes, a escola deverá dar-lhes, desta maneira, o tal fogo de Prometeu, ou seja, uma vez fadados (as crianças) ao determinismo dos processos históricos assim como absorvidos em suas subjetividades, logo, caberá à própria criança o seu sucesso (?) que se justifica na lógica do mérito: esforço e desempenho da criança na escola. Mas não é somente isto, o sistema escolar, com seus diversos atores, coloca um plus nessa imagem da autoridade escolar (professores, pedagogos, diretores e gestores do sistema educacional – tanto por parte da União, dos Estados e dos Municípios), tecendo o sistema de ideias que estigmatizam a construção hierárquica, a demanda dessa engenharia estatal das desigualdades sociais, por sua vez, os atores terão por fim depor sobre esses sistemas de ideias que atravessam, a todo tempo, a instituição escolar, blindando, desse modo, a cortina de ferro que se estende em torno do programa da exclusão social e das desigualdades.