segunda-feira, 19 de agosto de 2013

DELEUZE: A FILOSOFIA CRIA CONCEITOS



Filósofo DELEUZE, 1925-1995
O filósofo Deleuze - * filósofos (franceses) contemporâneos - diz que "a filosofia é invenção de conceitos" [vide o livro: O que é a filosofia? (2010, p.29): "O conceito é incorporal, embora se encarne ou se efetue nos corpos. Mas, justamente, não se confunde com o estado de coisas no qual se efetua. Não tem coordenadas espaço temporais, mas apenas ordenadas intensivas. Não tem energia, mas somente intensidades, é anergético (a energia não é a intensidade, mas a maneira como esta se desenrola e se anula num estado de coisas extensivo). O conceito diz o acontecimento, não a essência ou a coisa.]
Nesse sentido explicativo o conceito faz uma contraposição com a matematização científica ou a mensuração empírica, inclusive, contraposição ao fenômeno e ao pensamento metafísico ou ontológico como a que pergunta pelo SER.
Deleuze – junto com Félix Guattari - nunca deixou de fazer esse exercício: a invenção de conceitos, exemplos: máquinas-desejantes, corpo-sem-órgãos, desterritorialização, rizoma, ritornelo e outros. Todavia, os atos dessas invenções de conceitos não intencionava de maneria nenhum engessar "verdades" a serem reproduzidas. Tal lógica sinaliza por si uma crítica do conhecimento e o poder, ou seja, quem sabe mais, tem mais poder: dominação pelo saber. Porque não se tratava de simples trocas de palavras, como se não houvesse chão ou território como plano de ação, sentidos e signos, os conceitos efeminizam a questão da verdade pelo duto científica (verdade versus ciência).
Por sua vez, o estranhamento com qualquer conceito pode demandar pela explicação do seu contexto e a significação do seu  sentido (se alguém inventou, tem esse segredo, pelo menos, para situar a criação na linguagem!). O conceito pede pelo aparecimento!
E se o novo conceito gera tal estranhamento, assusta ou afeta, por efeito, lança algumas questões críticas: (i) a querela sobre como comunicar com àquele que ainda não conhece uma palavra/conceito pelo sentido, contexto (vocabulário); (ii) como esse conceito reiventa a situação que se projeta no plano que também aparece como "novo"? Nesses aspectos Deleuze (2010, p.45) tem uma provocação: "A filosofia é um construtivismo, e o construtivismo tem dois aspectos complementares, que diferem em natureza: criar conceitos e traçar um plano". O ato de criação, portanto, precisa de um plano de ação. Se crio por exemplo um 'devir-criança' tenho por plano a rediscussão o que é a criança e o que é a infância além da 'verdade' biológica, psicológica, educativa? Que experiência e acontecimento tem a infância como plano de um novo saber? 

domingo, 18 de agosto de 2013

Marx e a Ideologia marxista

Karl Marx, 1818-1883
Tomando como referência o que dizem Japiassú e Marcondes (2006, p.141), ou seja, que a ideologia marxista vem tomada pelo sentido crítico, pois, (com ela) se recorta (criticamente) esse fenômeno da superestrutura, que está no entremeio das relações sociais e a estrutura econômica da sociedade, enfim, (com ela) se demonstra como tal gargalo classista acaba por servir exatamente aos interesses da classe dominante, o que se chama de ‘burguesia’, logo, desse modo e por efeito, os pensamentos dominantes serão, na verdade, (sempre) os pensamentos de sua dominação, ou seja, a ideologia serve para justificar o domínio exercido como tal e também para manter a manutenção da sociedade nessa dicotomia proletários/burgueses (quer dizer, da burguesia versus do proletariado). Não penso que seja uma dicotomia, uma dualidade, a menos que se veja nessa polarização burguesia e proletários uma redução semântica da teorias social, porém, não estaremos mais com Marx, porque a dialética implica necessariamente num devir ou movimento histórico, que, no caso deste filósofo, ao ter invertido a dialética de Hegel, que para ele estava com de cabeça para baixo, o Espírito marxista explicita uma Teoria Social em que as relações de produções implicam numa Ontologia "material" das Ideias, não ao contrário, como em Hegel. Ou seja, a materialidade das relações de produção mantém nexo com as ideias da burguesia, não ao contrário. Mas Karl Marx propõe de fato uma síntese para mudar a lógica classista, qual deva ser então? Sua resposta não cabe aqui mais que sintetizar numa palavra: revolução. Isso dito, por enquanto, para não fecharmos o assunto, basta-se!

QUESTÃO: Será que a Ideologia marxista se oferece como um tipo de "poder invisível", de sentido construtivo? como podemos superar, por outro lado, conforme a crítica ao materialismo histórico-dialético marxista da determinação filosófica ideológica, ou melhor, será que há fissuras - ou não - nesta "determinação" do sujeito marxista?
Referência Bibliográfica

JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 4ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

ÉTICA NA CIDADE (influência histórica clássica grega)

SÓCRATES (469-399 a.C.)
Para pensar sobre a ética articulada ao social, junto às intersubjetividades/atores da cidade, isto é, ética na cidade e a cidade ética, primeiramente, temos que ver - na história da filosofia – que nem sempre o interesse pela cidade deve ter sido mais acentuado que na fase clássica grega, quer dizer, por exemplo, o que se verá na escolástica, diferentemente, é uma estilística teológica, o que se verá na fase moderna: mais sobre o interesse pelo conhecimento (possibilidades, limites, uso da razão, etc.), e o que se verá na fase contemporânea estará centrado no interesse pela linguagem - e pela superação da modernidade, resguardadas suas problematizações conceituais e plurirreferencialidades teóricas sobre o "pós"! -, enfim, nestas fases - de atravessamentos e modulações - o conhecimento filosófico (caso não se distancie da ética) mais longe parecer ficar da noção da cidade, da cidade ética. Nesse sentido, por exemplo, Aranha (2009, p.248) nos lembrará (exatamente) do tempo clássico grego, pois, lá se tem a ideia de nascente de um “sujeito moral” afundado mais numa completa individualidade, inclusive, indivíduo(s) absorvido(s) no conceito de cidadão(s) da cidade, mas com nexo intrinsecamente ligado à política, portanto, Sócrates, Platão e Aristóteles, se não avançam sobre uma questão social a que estamos tentando sublinhar com seu caráter ético da cidade, como tal hoje, obviamente, temos que articular com outra noção de política, de ética, logo, de práxis, porque para estes filósofos clássicos antigos, ainda que, segundo Habermas - e muitos outros teóricos, não tiveram em sua concepção a separação conceitual e o deslindamento teórico da ética e da política na cidade, quer dizer, pensavam no mesmo plano de enfoque, e, ainda que a pólis (cidade, estado) não se apresente para nós na sua devida configuração espiritual grega a que prescinde de nossa razão moderna e contemporânea capturá-la como tal era na representação da experiência ática, sobretudo, porque para nós, de influência iluminista adjetivada nos seus valores caros e impregnados no nosso sistema educativo enciclopédico, verteu-nos outros signos sobre a noção de política e ética na cidade. Nenhum dos termos se apresenta do mesmo modo, e isoladamente não evidenciam o mesmo impacto, pois, como se pode isso esperar de fato. Mas a historicidade dos termos esclarece que o conceito está para ser interpretado também. É preciso contextualizar o conceito. Voltando aos gregos, pelo menos, eles são articuladores da noção ética, no sentido que se tem da política da cidade e do espírito de seus cidadãos virtuosos (aretê). A discussão tem certamente maior fôlego se a partir deles se emular. Concorda também Silva (1993, p.13, grifos nosso): no que tange à importância dos clássicos sobre o conhecimento ético e a cidade ao dizer que dificilmente imaginaríamos um filósofo mais comprometido com a cidade, com os problemas da vida política e com o destino histórico dos seus concidadãos do que Sócrates. O filósofo da praça, talvez, mais da rua, baliza o platonismo, o aristotelismo, os sofistas (nesse embate) e até os céticos antigos. Nesse caso, não sendo despretensioso, vê-se acentuado a função social do filósofo. Por isso, finalmente, caberá uma questão para nosso comentário:

QUESTÃO: Como os clássicos SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES articulam a ética na cidade, o conceito de cidadania, as bases da democracia (assembleia, justiça, participação discursiva, etc.), enfim, como eles desenvolvem uma racionalidade social que por sua vez consegue ser de importância contemporânea?

Referências Bibliográficas
1.       ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 4ª ed. rev. São Paulo: Moderna, 2009.
2.       _____. Temas de filosofia. 3ª ed. rev. São Paulo: Moderna, 2005.
3.       ARANTES, Paulo Eduardo; MUCHAIL, Salma T (org.). A filosofia e seu ensino. São Paulo: EDUC, 1993.