![]() |
As crianças e infâncias indígenas do Brasil |
E
a criança do Brasil? E a infância do Brasil? As perguntas se levantam como
protesto junto ao modismo dessa imagética (representação) eurocêntrica das
crianças e infâncias. Dominam eles os saberes também dos infantes? Ironia a
pergunta que por si oculta a suposta hegemonia de dominação dos saberes dos
adultos! Está correto Boaventura (2010) destacar que há muitas epistemologias
além da Europa, lógico, há as epistemologias do sul, e elas precisam ser
resgatadas, inclusive, como projeto político. Então há duas coisas a se
considerar relativas às culturas infantis com a educação: primeiro, uma questão óbvia, pois, as crianças e as infâncias
brasileiras se diferem das européias e; segundo,
quais crianças e infâncias tais epistemologias à brasilidade pode fazer surgir?
Essa última equação não é mais fácil que a primeira, pois, há poucas tentativas
densas nesse campo da sociologia da
infância verde-amarela. As culturas infantis brasileiras estão de algum
modo “invisibilizadas”. Deve-se apostar nas literaturas espertas, molecadas,
lúdicas e claudicantes nos diversos espaços e tempos brasileiros. Talvez, venha
dos clássicos, como Freyre, Holanda e Prado Jr, alguns dos bons resquícios para
ampliar a discussão à proporção que contribuem para racionalização da formação
social de nosso país. Talvez seja melhor se deparar com o folclore e a cultura
infantil em Florestan (As trocinhas do Bom Retiro), pelo menos, ele deixa um
texto que pode ser borilado com maior propriedade. Talvez seja possível
correlacionar à representação histórica-social da infância brasileira com o que
a filósofa Chaui (2004) descreve sobre o mito fundador: “o mito fundador é
construído sob a perspectiva do que o filósofo judeu-holandês Baruch Espinosa
designa com o conceito de poder
teológico-político.” Quem sabe é por isso que há tantos nichos e rituais
religiosos e disciplinares afagando a almas dos atores da educação, em nome da
salvação das crianças! Aumenta-se, portanto, nesta hipótese, a ideia de infância
brasileira mais distinta da européia, com certeza. Já pode ser um bom caminho. Ou,
quem sabe, certamente, virá da Cecília e do Drummond um brinde acolhido com a
estética da infância e com a poética das crianças. Enfim, posso dizer e
concordar com Kramer (1995), pois, tem razão quando diz que as “informações [em
referência a representação de infância européia] não podem ser mecanicamente
transpostas para a sociedade brasileira dada a diversidade de aspectos sociais,
culturais e políticos que interferiram na sua formação. Dentre tais aspectos,
pode-se citar a população indígena original, as diferentes migrações, o longo
período de escravidão, o imperialismo imposto pelos países europeus e o
impingido pelo Brasil a outros países latino-americanos.” Das palavras de
Kramer volto (a memória: Chartier) aos índios do Brasil, quem sabe, é o meu inconsciente em busca
dos arquéticos (Jung)! Por fim, entre questões
apontadas e não apontadas, na verdade, urge tentar levantar mais a sociologia da infância verde-amarela a se insurgir mais fortemente, ou, a sociologia
da infância pós-colonial, enfim, qual será nossa densa e específica construção a visibilizar nossas culturas infãntis singulares e específicas?
Nenhum comentário:
Postar um comentário