A organização escolar aplica um funcionalismo social sutil, espacial e temporal. Isso vem em paralelo com a mesma racionalidade das instituições emergentes nos séculos XVII e XVIII, muito embora a escola, assim como a denominamos democrática e universal, deva ser uma invenção institucional já do século XIX; e no caso da analítica brasileira, a escola foi adaptada junto às transformações da cultura escolar - brasileira - no século XX (SOUZA, 2008). Nesse caminho, para entender esta teoria da produção e reprodução social-escolar, primeiramente, faz-se necessário interpretar – sob criterioso cuidado - a questão da disciplina escolar e, por sua vez, o que vem a ser essa forte ênfase discursiva da meritocracia escolar a pairar sobre os atores do sistema de educação, ou seja, são as seguintes equações pertinentes a serem dirimidas: por qual motivo a escola deseja tanto o disciplinamento dos corpos infantis? Por que a escola estabelece esse discurso - muito bem situado - do mérito de cada aluno - ao mesmo tempo em que coloca tal proposta meta do sucesso social (tendo por foco principal) o discurso do futuro da criança?
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Pierre Bourdieu: 1930-2002
Sociólogo Francês |
Na verdade há certos conflitos e, posto aqui de um modo diferente, essa questão precisa decifrar uma política que nota quais são os entraves e os obstáculos sobre os modos em que a escola se insurge na trama social para tornar os corpos infantis dóceis, por efeito, classificando-os no espaço; em razão disso, dentro da perspectiva do crescente processo de virtualização do mundo social aos olhos dos infantes, a escola deverá dar-lhes, desta maneira, o tal fogo de Prometeu, ou seja, uma vez fadados (as crianças) ao determinismo dos processos históricos assim como absorvidos em suas subjetividades, logo, caberá à própria criança o seu sucesso (?) que se justifica na lógica do mérito: esforço e desempenho da criança na escola. Mas não é somente isto, o sistema escolar, com seus diversos atores, coloca um plus nessa imagem da autoridade escolar (professores, pedagogos, diretores e gestores do sistema educacional – tanto por parte da União, dos Estados e dos Municípios), tecendo o sistema de ideias que estigmatizam a construção hierárquica, a demanda dessa engenharia estatal das desigualdades sociais, por sua vez, os atores terão por fim depor sobre esses sistemas de ideias que atravessam, a todo tempo, a instituição escolar, blindando, desse modo, a cortina de ferro que se estende em torno do programa da exclusão social e das desigualdades.
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