FAUSTÃO e a GLOBO |
Pois o jornal e a televisão tem sua própria ética, por sua vez, acabam ficando mais ou menos acima das críticas, nesse caso, sendo um ramo supostamente democrático, não no governo, mas na gramática (no sentido textual e no sentido constitucional da necessária "livre expressão"), coloca-se na ditadura discursiva e na manobra para seus fins. Portanto, há engodos e embustes feitos à pena.
A liberdade de expressão, para que não avance flouxa, deveria ter algo mais ou menos como critério ético para a ação comunicativa. Fala-se aqui de Ética, não apenas de uma terminologia ética e moral no campo do conhecimento e da sua disseminação pela via midiática. Talvez eu queira dizer por aqui que tal Ética tem muito mais haver com a estética de construção das práticas sociais e políticas, com as epistemologias em que se borila nos periódicos para alguma finalidade, se para algum fim o jornal serve ao mundo! Mas voltanto à crítica, pois, toda crítica deveria se permitir ser pelo menos criticada, e ao ser criticada, inclusive, pelas pessoas comuns, como foi este o caso do manifesto dos PAIS OFENDIDOS, então, deveria ser considerado no sentido de aparecimento, e não de ocultamento, como fez a GLOBO, isto é, teve por sina não visibilizar as experiências dos que ouviram/assitiram: principalmente, os pais dos autistas brasileiros. (A nota da Rede Globo apenas defendeu a psicóloga. Mas ela disse claramente: ""O Asperger é um tipo de autismo. Não é aquele autismo tradicional, que a pessoa não faz contato e às vezes não consegue aprender. O Asperger faz contato e às vezes ele é considerado uma pessoa inteligente".)
A psicóloga propalou - do domínio dos saberes da psicologia moderna - alguns termos técnicos; e nem todos termos técnicos são bem conhecidos ao povo em geral; aliás, ela confundiu conceitos como Asperger, Psicopata e Autista, talvez, não por ignorância, mas pelo estilo midiático de permitir o ato comunicativo tão recortado e fluído. E de que adiantou a confusão de tais conceitos?
Se ela tinha pouco tempo, nada deveria ter dito com tamanha expansividade, abstratividade e distorção, obviamente, atos possibilitados pelas informações jornalísticas que são efêmeras. E na verdade com o domínio de intepretação, inserção e até colocação espacial de algum fragmento, o periódico é um tipo de poder Soberano. São as falas conduzidas e condutíveis, como se o espaço não percebesse muito bem o ambiente receptor ou dele fizesse ser virtual. Como se o ato de ouvir não passasse pela experiência, ou, como se fosse apenas racional. Há polissemias e polifonias no percurso, o que faz o ato de dizer e discursar ser muito mais complexo na arena democrática e o jornal não é capaz de pegar tudo isso, nem o livro, nem a enciclopédia. O que deve soar como abrilhantamento do ato discursivo e da ética do cuidado quanto ao que se diz.
Mas se a psicóloga, em pouco mais de um minuto, não conseguiu explicar, pelo contrário, trouxe confusão, principalmente aos pais com seus filhos autistas, isso demonstra, talvez, que as coisas são mais simples, eis algumas meras considerações:
1_NADA A EXPLICAR: o que dizer, o que narrar, o que discursar, sob tamanha crueldade?
2_FATICIDADE: tornar as coisas em fatos, com tal intepretação, é apenas considerar os seus nexos e as correspondências internas, lógicas?
3_O CASO: o que aconteceu apenas virou um caso, pela interceptação jurídica, normativa, mecânica e funcional da interpretação da sociedade ao que lhe foge à razão;
4_O SABER: a psicologia foi chamada à discursividade, e a psicóloga considerada autoridade, o saber aparece aí como campo de decifração do acontecimento;
5_NORMALIZAÇÃO: a psicólogia somente pôde falar sobre "asperger", "psicopata" e "autista", porque se pode medir um padrão, uma ideia de normal;
FAUSTÃO então pensou que a TV é uma deusa "moralista" e "determinista" (Faustão sugere que os crimes como este poderiam ser prevenidos se os pais notassem os comportamentos "estranhos" de seus filhos!) como se tivesse poder de Educação dos pais e dos filhos?! Ora, para que não aconteça ou se repita um drama como tal no Brasil.
Por outro lado, Faustão deve saber que cada família (pessoa) deve escolher muito bem como tecer sua própria existência com as melhores informações, na verdade, as coisas são assim mesmo, não há tal poder de culpabilizar, moralizar ou determinar algo para acontecer ou não acontecer.
Nada porém afasta, dilui, ou elimina a dor dos pais das crianças vítimas, das crianças estereotipadas como autistas, enfim, dos pequeninos e pequeninas que se foram. Prefiro o silêncio e o absurdo inconformismo que dizer algo a cercear e a capturar as liberdades - exceto de for para ajudar e fortalecer aos que cuidam e às suas experiências.