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PIKITIM na Tailândia |
Ao ler sobre a “Menina de seis anos dá volta ao
mundo e fala sobre seus lugares preferidos” (fonte: http://www.pikitim.com/) não se pode deixar de recolocar em paralelo a importância
da experiência da criança quando se quer tratar de olhar melhor sobre o estudo das
Culturas Infantis a que nos dedicamos com seriedade, seja como psicólogos, sociólogos, filósofos, pedagogos, médicos e antropólogos.
Ela visitou diversos lugares (Singapura, Tailândia, Malásia, Filipinas, Indonésia), e viu diversas regiões (climas, ambientes físicos, vilas, vilarejos),
culturas, línguas, além de ter degustado comidas variadas e ter dormido em
variados ambientes e modos humanos. Também brincou em todos estes contextos.
Foi de fato na dimensão de uma volta ao
mundo, uma volta ao globo, que a menina, chamada Pikitim, traz suas
experiências. Mas a experiência de Pikitim está na narrativa de seus pais que
relatam coisas como “Brincou de esconde-esconde, correu atrás de
cachorros, porcos e galinhas e fez brinquedos com cocos, corais e folhas” e “Pikitim viu muitas praias pelo mundo e
elegeu como sua favorita uma das primeiras que conheceu, na Tailândia: a praia
de Railay”. As principais facetas dos estudos com as
crianças e os seus percursos emblemáticos estão presentes na viagem de Pikitim
(ou da família de Pikitim). Posso enumerá-las mais ou menos agora, sem muito por aqui
escrever, já que este blog tem nexos com os campos de estudos e assim se pode consultar cada postagem relativo ao assunto para aprofundamento.
1_NARRATIVA: a experiência de Pikitim, ou melhor, com Pikitim, são capturadas na narrativa
de seus pais que vão dizer coisas óbvias, ou deveras, repetitivas, no sentido
de contrastes com outras abordagens, como dizer que a menina “descobriu
desfiladeiros e provou que criança pode ser feliz quando está largada na
natureza, correndo atrás de esquilos, procurando ursos, subindo em montes e se
deslumbrando com árvores gigantes”, quer dizer, em
contrastes, como se pelo fato da menina ser urbana (ou ter conhecido a
Disneylandia) tivesse que impressionar o mesmo espírito em que a criança brinca
e interage com outros espaços não-urbanos? Ora, isso é repetitivo e nada
impressionante. Se tem algum encanto nisto é pelo mesmo motivo em que se coloca
encantado pelo ser pueril, a criança;
2_AUTORIDADE: presumem-se das mesmas situações em que as
pesquisas com crianças mais avançadas têm que cruzar sobre assuntos como
instituições (a família de Pikitim), autoridade (os Pais, as Leis, o
passaporte), e outras ramificações sociológicas sobre o aspecto geracional e
adultocêntrico ou adultofalocêntrico em que Pikitim aparecer como criança;
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DESENHO de Pikitim |
3_REPRESENTAÇÃO: A narrativa posiciona os textos e os contextos com
diversas imagens em que seus pais deverão fazer a interpretação, dar a
hermenêutica, desdobrar os eventos, figurar os fatos e corresponder com as
imagens, bem como o inverso diria o mesmo, portanto, pode ter a representação
da criança e da infância através das narrativas contextualizadas;
4_EXPERIÊNCIA: Pikitim, a menina de Portugal, que se aventurou um
ano com seus pais, traz além das imagens uma vasta flexão com as experiências
de Pikitim, embaraçadas, híbridas, com as experiências dos pais, com a
experiência da família de Pikitim, com a escrita, autoria e narrativa sob poder
de seus pais, porém, pelo menos o texto não é pedagogicamente tão prescritivo
como alguns por aí, e, também, parece que não prefere uma cronologia ou
espaço-tempo mais privilegiado sobre outros, marcando o mapa e as cidades como
territórios centrífugos, nucleados, e superiores, como o retrato eurocêntrico,
ou, o desenho colonialista invisibilizado da criança colonialista - que surge
do colonial e do pós-colonial -, ainda assim, da narrativa que vem do mesmo
lugar como se apenas mirasse o lado negativo da fotografia, porém, ainda não
conta de fato sobre a criança e a infância que, na verdade, ao contá-la, poderá
apagá-la como a borracha apaga o rabisco do lápis.
Poderia apontar mais, e nem falo sobre o que é
emblemático na forma metodológica de encarar uma escrita com a criança e com as
culturas infantis em fato de colocar em relevo o que parecer ser o melhor modo
de ver a criança, ou seja, sua experiência. Aqui nesse caso surge outra lição
pertinente, onde ela fala, onde ela narra, onde ela diz? Como paralisar,
flagrar e transportar o que a criança fala, narra e diz? Parece que não há
muita saída nessas circuntâncias em que se leva a sério os estudos com as crianças
e as culturas infantis. Os cuidados em que se cerca ao pesquisador, em
princípio, evidencia sua ética e estética abundante.